Aprender a Ser – Reiki nas escolas, entrevista a Teresa Barros

​Olá, sou a Teresa, tenho 44 anos e sou mulher, mãe, filha, amiga, terapeuta, formadora entre tantos outros papeis que me podem definir. Gosto de pensar em mim como uma apaixonada pela vida. Desde cedo, que me interesso essencialmente pelo ser humano e por tudo que com ele (connosco possa estar ligado), desde muito novinha que gosto de reflectir sobre o que é isto de estarmos VIVOS e VIVER! Sobre o sentido da Vida! Mas como viver é muito mais que reflectir, fui caminhando,” vivenciando” tudo o que a vida me foi propondo. O meu percurso académico passou pela área jurídica, tanto na Universidade Portucalense como na Universidade do Minho, mas fui percebendo que o sentido seria outro. Qual? Fui experimentado. Durante vários anos estive ligada à área comercial, à gestão e até mesmo à restauração. Fui crescendo, aprendendo e nunca me desligando do que verdadeiramente me atraía. Fiz várias formações na área de desenvolvimento pessoal, auto conhecimento, formação de formadores, gestão de emoções e competências sócio emocionais, biodanza ,massagens,meditação, Reiki, bioenergética, reflexologia, numerologia,leitura de aura e regressão e tantas outras terapias que me levaram à descoberta de tanto, mas principalmente sobre mim. Em determinada altura, fiz uma profunda paragem por questões de saúde e a partir daqui toda a minha vida e percurso profissional mudou. Hoje, gosto de me ver como uma Terapeuta Biodinâmica, utilizo um conjunto de terapias para desenvolvimento, crescimento e equilíbrio do ser humano. Dou formação e tenho abraçado vários projetos com crianças e jovens através da ARCJ (Associação de Reiki para crianças e jovens) em instituições, escolas e no Cenif.

Crescer com Reiki – Reiki nas escolas

Há quanto tempo estás envolvida no projeto de Reiki nas Escolas?

​O meu percurso com o Reiki e em especifico com as escolas, surgiu de uma forma muito natural. Procurei o Reiki para mim, e durante os vários níveis a que me propus o projeto crianças e jovens foi surgindo quase espontaneamente, primeiro no voluntariado, depois como estágio e depois como terapeuta. Diria que o Reiki nas escolas fez parte de toda a minha formação em Reiki, por isso desde 2015. Tomou ainda outro sentido quando fiz a formação de Terapeuta de Reiki para crianças, com a Silvia Oliveira e a História do Super Reikinho e ainda com a oportunidade de fazer voluntariado no Projeto “Crescer com Reiki” na escola João de Meira, em Guimarães.

Que tipo de experiências mais marcantes tens tido?

​Trabalhar com Reiki nas escolas é sempre um enorme desafio mas algo que me enche o coração. Dizer que é fácil, não seria verdade, não pelas crianças, que essas olham e sentem o Reiki como algo muito natural e até como o único momento em que podem ser apenas elas: crianças. O maior desafio está sempre nos adultos e a todo um conjunto de preconceitos e crenças associados. De qualquer forma, eu sou por natureza alguém que acredita que é possível levar um outro olhar sobre o Reiki, basta que sejamos nós terapeutas também simples e naturais na explicação do mesmo. O Reiki é simples, para quê complicar? Escolher uma experiência não é possível, mas gosto de relembrar situações em que me entregam crianças ou jovens “rotulados” como “problemáticos, arruaceiros, hiperativos” e ao final de uma conversa, de uma aula ou sessão, são os mesmos que dizem : ” obrigada por me teres escutado, obrigada por me deixares ser eu, ainda bem que alguém me dá atenção” e a partir dali são os próprios professores que referem:” não sei o que fazes, ou se é do Reiki, mas algo mudou, está mais calmo!”
Mas com os professores e auxiliares também é possível, recordo por exemplo, alguns professores que após algumas sessões procuraram fazer formação por sentir que o Reiki fez algo por eles e pela sua vida. E depois os pais…não faz muito tempo que acordei com um email em que uma mãe pedia desculpa por estar a entrar em contacto comigo, mas que sentiu necessidade de agradecer o que o Reiki estava a fazer pelo filho. Sentia que algo tinha mudado, que tinha um menino completamente diferente em casa, menos agressivo, mais responsável e concentrado, mais carinhoso. E tudo isto e muito mais vai marcando!!!

É fácil ter e manter um projecto de Reiki nas Escolas? Porque?

​Bem, esta é daquelas perguntas em que gosto muito de ser cuidadosa a responder. Não gosto de responder que sim,nem que não. E não gosto de generalizar, gosto mais de olhar para várias questões e circunstâncias que podem fazer funcionar um projeto de Reiki nas escolas. Já foi mais complicado, porém tudo vai depender da escola, do meio envolvente, das pessoas, dos responsáveis, das expectativas e principalmente da forma como o terapeuta chega à escola. Na minha opinião, e é só a minha opinião, um projeto pode ser fácil de ter e manter principalmente se o terapeuta de Reiki souber adaptar-se e fluir a todo o ambiente escolar. O terapeuta de Reiki deve ter em primeiro lugar presente que é apenas um terapeuta e/ou formador de Reiki, não é psicólogo, não é professor, nem tem a verdade na mão. Não está na escola para levar a “salvação” nem é detentor de algo que vai mudar tudo. É apenas mais um elemento, em toda a rede escolar, que tem mais um instrumento e mecanismos para em colaboração com os outros profissionais proporcionar às crianças e jovens, bem como professores, auxiliares e pais um ambiente melhor e uma forma de vida mais pacifica e equilibrada.
Em segundo lugar, deve fazer ver que não está na escola para tirar o lugar a ninguém e muito menos para ser agora aquele que vai ensinar o melhor caminho, deve ele próprio refletir sobre o que quer levar àquela escola e para isso nem sempre podemos começar logo pelo Reiki, sentir as crianças e suas necessidades será sempre o primeiro passo.O terapeuta está apenas para colaborar com todos e fazer o seu melhor, sempre com o objectivo único: ajudar primeiro as crianças e depois a restante comunidade.
Em terceiro lugar, não elevar demasiado as expectativas, nem sempre chegamos a todos. Nem a todas as crianças nem a todos os adultos e está bem assim…é um caminho, uma semente e se for uma semente de coração tudo a seu tempo vai organizar-se.
Por fim, aceitar todos no seu processo e não frustar quando nem sempre corre como gostaríamos. Para levar o Reiki às escolas todos precisam de trabalhar a empatia : todos sem excepção!

No dia 1 de Junho a ARCJ celebrou o terceiro aniversário e fizeram uma atividade na Escola ACR Fornelos, fala-nos sobre esse evento e quantas pessoas estiveram presentes?

O dia 1 de Junho foi de facto um dia muito bonito. Celebrávamos o terceiro aniversário da ARCJ e também o dia da criança, a escola ACR Fornelos tem como tradição fazer o dia da Comunidade Escolar, onde todos se juntam, professores, auxiliares e famílias. É um dia recheado de atividades onde todos podem proporcionar um dia diferente às crianças e jovens. Este ano foi proposto ao” Projeto Aprender a Ser” que participasse não só nas atividades como fizesse o fecho do dia. Confesso que aceitei sem hesitação mas sem muita noção do que seria este evento, afinal era o nosso primeiro ano naquela escola. Foi primeiro com grande espanto e depois com enorme alegria, que percebi que estariam inscritas 750 pessoas. Enorme desafio…levar a ARCJ e o Reiki num único dia, num único evento a tantas pessoas era uma enorme responsabilidade. Contei com ajuda de duas pessoas de quem gosto muito a Drª Glória Gonçalves ( psicóloga do Cenif Guimarães e a colaborar com ARCJ) e Vera Soares ( terapeuta de Reiki e colega de caminho) e foi maravilhoso.
As famílias eram dividas em equipas e passavam pelos vários postos de atividades, nós éramos um desses postos e depois de tantos saltos, bowlings humanos, saltos na água, fazer as pessoas apenas estarem, escutarem e meditarem foi uma enorme conquista. E foi possível!Afinal todos estamos a precisar de parar!
E no final, o que nos encheu o coração, num único espaço, um pavilhão, juntar todos…desde crianças de 3 anos a avós, professores, auxiliares, orgãos de direção…e fechar o dia….há momentos que não se trazem para as palavras, sentem-se! E sentir a energia daquele momento ainda hoje me emociona! E o que é o Reiki senão uma energia? E foi isso: uma energia de AMOR!

Qual foi a sensação que os participantes demonstraram sobre este evento?

O feedback tem sido maravilhoso, às vezes fico sem jeito, mas logo penso que o Reiki é isto mesmo: de coração para corações! Muita gente abordou-nos logo no final, agradeciam e alguns até emocionados referiam que nunca se tinham sentido tão calmos. Outros falavam só da oportunidade que tiveram de respirar…sem telemóveis, sem compromissos! Outros na possibilidade de terem sentido os filhos e olharem para eles com outros olhos…e ao longo dos dias tem sido muito isto. Procuram-nos para perceber melhor o ” Projeto Aprender a Ser”, compreender melhor o Reiki e em que medida pode ajudar em determinados problemas, como a ansiedade, depressão, agressividade, falta de concentração…temos acompanhado alguns pais com outros problemas mais complexos, sempre com conhecimento e colaboração da escola.

Achas que Reiki faz mesmo sentido nas escolas, para as crianças e mesmo para os professores e auxiliares?

​Sem dúvida alguma. Afinal onde é que os nossos filhos passam a maior parte dos seus dias? Afinal quem são os professores e auxiliares senão também humanos, com vidas para além da escola e com famílias, que passam ( também) maior parte do seu tempo nas escolas?
Não podemos esquecer que o Reiki não é apenas uma terapia e um conjunto de técnicas é também ( senão essencialmente ) uma filosofia de vida. Como filosofia de vida, o Reiki tem muito acrescentar às escolas, crianças e familiares, todos sabemos que vivemos um tempo ” sem tempo” , vivemos momentos em que parar não faz parte do dia a dia das famílias, em que adultos e crianças não respiram atolados em compromissos e atividades. Vivemos um tempo em que as escolas lidam com grandes dificuldades de comportamento, gestão de agressividade, com necessidade de uma forma de ensinar adequada a estas novas gerações e eu acredito que estas gerações nos estão alertar para uma grande mudança…. Precisamos de as escutar, precisamos de as sentir…precisamos de viver e não sobreviver!
Se não começarmos na escolas que é por onde passa maior parte da vida de todos nós, por onde começar?
Criar atividades como o “Projeto Aprender a Ser” com Reiki, meditação, respiração, competências sócio emocionais é urgente!

Como perspectivas o futuro de Reiki nas Escolas?

​Eu acredito numa mudança de paradigma. Eu acredito que tudo que envolva trazer mais vida à vida é o caminho! Acredito que o Reiki naturalmente começará a fazer parte das nossas escolas. Mas também acredito que é de nossa responsabilidade enquanto terapeutas desmistificar o Reiki. Sinto que a Associação Portuguesa de Reiki e a ARCJ têm feito um grande trabalho de desmistificação e credibilidade do Reiki. Cabe-nos a nós formadores, terapeutas, alunos de Reiki não complicar. O Reiki é simples e natural, as crianças não colocam entraves, as crianças sabem o que é sentir as crianças agem naturalmente a algo que é natural nelas. É necessário que de uma vez por todas, nós adultos, nós terapeutas possamos fazer chegar com naturalidade, com simplicidade o Reiki a todos. Deixemo-nos de iluminações e esoterismos, sejamos humanos como as crianças tão naturalmente nos ensinam….se assim for a semente do Reiki dará uma linda flor!