A dualidade das retiradas da crianças aos pais

É do conhecimento de todos que o ambiente em que se inserem as crianças, o contexto familiar, social e cultural, exerce uma grande influência no desenvolvimento e consequentemente nas atitudes atuais e futuras das mesmas.

As crianças “absorvem” tudo o que acontece ao seu redor, sejam situações positivas, sejam negativas. Elas não guardam na memória apenas aquilo que lhes é dito. Muito do que vivem junto dos adultos, nomeadamente dos pais, figuras de referência, ou aquilo que os veem fazer, é assimilado pelos mais pequenos, ainda que de forma inconsciente. Algumas das atitudes presenciadas podem, inclusive, deixar marcas na própria personalidade e prevalecerem para toda a vida.
Pais que discutem na presença dos filhos, sejam crianças ou adolescentes, transmitem-lhes não só um profundo sentimento de insegurança e mágoa, mas também um exemplo de conduta inadequado.

De salientar que, apenas em situações em que as crianças estão em perigo iminente, urge a necessidade de proceder a uma retirada!
Não basta a existência duma situação que afete os direitos fundamentais da criança; é necessário que ela se encontre desprotegida, face a esse perigo.

A Lei de Proteção das Crianças e Jovens em Perigo enumera algumas situações de perigo:

  • Abandono ou a viver entregue a si própria;
  • Maus tratos físicos ou psíquicos;
  • Vítima de abuso sexual;
  • Ausência de cuidados ou a afeição adequados à sua idade e situação pessoal;
  • Trabalho infantil;
  • Estar sujeita, de forma direta ou indireta, a comportamentos que afetam gravemente a sua saúde, segurança, formação, educação ou desenvolvimento sem que os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto se lhe oponham de modo adequado a remover essa situação.

Do ponto de vista técnico, as instituições serão sempre o último recurso. Todas as crianças têm direito à família.
Uma retirada de uma criança aos pais é um dos atos mais Violentos que existe, não só para a criança, mas como para todos os envolvidos, contudo o impacto que tem na criança pode ter consequências irreversíveis não só a nível emocional, mas também ao nível físico.

Uma criança que cresce com uma ferida interior, poderá tornar-se num adulto emocionalmente doente.
Partindo deste princípio, e consciente do impacto negativo que irá proporcionar a criança, bem como, consequentes traumas que poderão advir dessa exposição, é fundamental tomar decisões conscientes e assertivas!

Já dizia Freud e Jung, o que vivemos na infância impacta o resto dos nossos dias.

Maria João Passos Freitas Assistente Social